Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês mais longevo no cargo

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Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês mais longevo no cargo

Shinzo Abe, que deixou nesta quarta-feira (16) o cargo de primeiro-ministro do Japão por razões de saúde, entrará para a História por sua política econômica audaz e intensa atividade diplomática.

O nacionalista e pragmático Abe, de 65 anos, bateu recentemente o recorde absoluto de longevidade como primeiro-ministro, depois de superar vários escândalos.

No cargo de maneira ininterrupta desde 2012, decidiu renunciar por ter voltado a sofrer de colite ulcerosa, uma doença intestinal inflamatória crônica.

Após uma passagem frustrada pelo poder em 2006-2007, encurtada por uma série de escândalos e pela doença no intestino, Abe retornou ao posto de primeiro-ministro com status de salvador em dezembro de 2012. Ele encerrou o período em que a centro-esquerda comandou o Executivo, entre 2009 e 2012, marcado pelo terremoto e tsunami de março de 2011, que provocaram a catástrofe nuclear de Fukushima.

Abe se tornou conhecido no exterior pela estratégia de recuperação econômica, conhecida como “abenomics”, na qual mesclava flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais.

Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa registrou apenas êxitos parciais, agora ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.

Como “populista”, Shinzo Abe não se comprometeu com reformas necessariamente “dolorosas”, o que explica sua longevidade no poder, afirmou Masamichi Adachi, economista do UBS, em entrevista à AFP.

– Estirpe de políticos –

Abe se preparou desde jovem para exercer o poder, marcado pela história de sua família, com duas gerações de dirigentes políticos antes dele.

A grande ambição de Abe era revisar a Constituição pacifista japonesa de 1947, escrita pela potência ocupante americana e que nunca recebeu emendas desde então.

Como Abe construiu sua reputação com a imagem de firmeza ante a Coreia do Norte, ele desejava o reconhecimento constitucional para a existência de um exército nacional, no lugar das atuais “forças de autodefesa” japonesas.

A ideia foi divulgada apesar da Constituição estipular que o Japão renuncia para sempre à guerra.

O dirigente conservador afirmou desejar um Japão capaz de defender-se militarmente sem carregar de modo indefinido a carga do arrependimento ante China e Coreia do Sul, dois países que foram ocupados por tropas nipônicas.

Durante o governo Abe, as relações do Japão com a Coreia do Sul pioraram consideravelmente, enquanto as relações com a China melhoraram de de modo significativo.

Shizo Abe se adaptou a cada mudança de presidente dos Estados Unidos. Ele foi o primeiro governante estrangeiro a viajar a Nova York para um encontro com Donald Trump, imediatamente após sua eleição, e compartilha com o americano a paixão pelo golfe.

Ao mesmo tempo, Abe tentou não ofender o presidente russo Vladimir Putin, com quem gostaria de resolver a divergência sobra as Ilhas Kuril (chamadas “Territórios do Norte” pelos japoneses), anexados pela ex-União Soviética após a Segunda Guerra Mundial e jamais restituídas ao Japão.

Abe, com frequência chamuscado por escândalos que afetam seu entorno, soube aproveitar acontecimentos externos – lançamentos de mísseis norte-coreanos, catástrofes naturais – para desviar a atenção e se apresentar como líder indispensável diante da adversidade.

Também se beneficiou da falta de um rival de envergadura dentro de seu partido, o PLD, e da fragilidade da oposição, que ainda não conseguiu se recuperar de sua passagem desastrosa pelo poder entre 2009 e 2012.

A popularidade de Abe, no entanto, caiu desde o início da pandemia do coronavírus, pois sua gestão foi considerada lenta e confusa.

Abe também se aferrou à esperança de manter os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, um evento que seria o ponto máximo de seu mandato. Mas a Olimpíada foi adiada por um ano em consequência da pandemia.

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