“Queremoscooperar na construção do 5G no Brasil” , diz chancelerjaponês antes de reunião com Araújo

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O ministro de Relações Exteriores do Japão, Toshimitsu Motegi, chega hoje ao Brasil, onde, na sexta-feira, se reunirá com o chanceler Ernesto Araújo e fará uma visita de cortesia ao presidente Jair Bolsonaro. Motegi assinará atos de cooperação e vem também para avançar a agenda comercial de seu país. Empresas do Japão — país desenvolvedor do sistema de TV digital adotado pelo Brasil — aprimoram a sua própria tecnologia de telecomunicações 5G, tentando ocupar um espaço como alternativa a companhias da China. Nesta entrevista, ele discute um possível acordo entre seu país e o Mercosul, a destruição da Amazônia e vantagens competitivas do 5G japonês.

Qual o objetivo da visita, e como o senhor avalia o atual estado da relação entre Brasil e Japão?

É uma grande satisfação poder visitar o Brasil, que é uma potência regional, com quem o Japão compartilha de valores fundamentais como o Estado de Direito, a liberdade, a democracia e os direitos humanos. Além disso, o Brasil possui profundos laços tradicionais. Gostaria de expressar minha sincera gratidão ao governo e ao povo brasileiros por seu caloroso acolhimento. À medida que as transformações na comunidade internacional se aceleram e se tornam mais complexas em todo o mundo, inclusive na América Latina, aumenta a importância da cooperação internacional para manter e fortalecer uma ordem internacional livre, aberta e baseada no Estado de Direito. O Japão e o Brasil compartilham de valores fundamentais, com profundos laços tradicionais baseados na presença da comunidade nipo-brasileira e uma relação econômica cada vez mais profunda. Ambos os países são “parceiros estratégicos globais” que promovem a parceria e a cooperação não apenas bilateralmente, mas também no cenário internacional. No ano passado, as relações bilaterais foram fortalecidas ainda mais por meio do 125º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre Japão e Brasil, bem como por meio do 30º aniversário da comunidade brasileira no Japão. E foi lançada uma estrutura de diálogo trilateral com o objetivo de fortalecer a cooperação entre o Japão, os Estados Unidos e o Brasil, que são atores importantes na Ásia, na América do Norte e do Sul. Além disso, o Japão está fornecendo equipamentos de cerca de 500 milhões de ienes (cerca de US$ 4,8 milhões) para apoiar as medidas do Brasil contra o novo coronavírus. E, também, está ajudando os países da América Latina, além do Brasil, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), entre outras iniciativas. Aproveitando esta visita, gostaria de fortalecer ainda mais a relação nipo-brasileira, que continua a se expandir e se aprofundar ano a ano.

Considerando a assinatura do acordo entre Mercosul e União Europeia em 2019, poderia ser firmado um acordo entre Mercosul e Japão? Há negociações ocorrendo nesse sentido?

O Japão aprecia os esforços pioneiros do Mercosul para liberalizar o comércio e os investimentos com base em regras. Considerando sua escala econômica semelhante à da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), bem como sua ativa integração e aprofundamento das relações intragrupo, as empresas japonesas também vêm fortalecendo sua presença no Mercosul. Continuaremos discutindo qual tipo de medidas seria desejável para que o fortalecimento das relações comerciais e de investimentos entre o Japão e o Mercosul seja realizado de forma benéfica para ambas as partes.

As exportações brasileiras para o Japão compõem-se, na maior parte, de produtos primários. Alguns desses produtos são por vezes associados ao desmatamento da Amazônia. O Japão pretende, de algum modo, estabelecer restrições a produtos sem certificação ambiental?

Para a preservação ambiental, é importante alcançar um equilíbrio sustentável entre proteção e desenvolvimento. O Japão, que estabeleceu um ciclo virtuoso de economia e meio ambiente como um pilar de sua estratégia de crescimento, está fazendo os máximos esforços possíveis para a concretização de uma sociedade verde e, nesse contexto, está também promovendo cooperação com o Brasil. Por exemplo, o Japão forneceu ao Brasil equipamentos de prevenção de incêndios, e há muitos anos realiza projetos de monitoramento e previsão de perdas florestais usando imagens de satélites japoneses. O Japão também vai considerar o apoio à agricultura sustentável, como a agricultura inteligente que usa IA (Inteligência Artificial) para minimizar o uso de produtos químicos e combustíveis. Durante esta visita, vamos assinar um memorando de cooperação em biodiversidade para promover a cooperação Japão-Brasil para a compatibilidade entre preservação e exploração dos recursos naturais. Por meio desses esforços, continuaremos a cooperar para a preservação do meio ambiente, incluindo a região amazônica, e para o desenvolvimento sustentável. O Brasil anunciou recentemente que alcançará a neutralidade em carbono até 2060 com base no Acordo de Paris. O Japão também pretende atingir a neutralidade em carbono até 2050, o que reduzirá as emissões nacionais de gases de efeito estufa a net zero. O Japão vai trabalhar em estreita colaboração com o Brasil em questões de mudança climática global.

Há discussão no Brasil sobre qual modelo de tecnologia 5G usar no país. Após o Reino Unido banir equipamentos da Huawei no desenvolvimento de sua rede, as empresas japonesas NEC e Fujitsu estão ajudando no estabelecimento do 5G naquele país. Qual é o interesse dessas empresas no mercado brasileiro? E qual a garantia de que as comunicações brasileiras não serão monitoradas?

Enquanto a administração do primeiro-ministro Suga Yoshihide está promovendo a digitalização da economia com rapidez, a construção da rede 5G está no núcleo da estratégia de crescimento do Japão. Para obter a garantia de que as comunicações não serão monitoradas, é necessário estabelecer regras para isso. Para manter um “espaço cibernético livre, justo e seguro” que não permite atividades ilegais, como espionagem, o Japão está trabalhando ativamente no estabelecimento de uma legislação doméstica própria e de regras internacionais, incluindo as concernentes à rede 5G, que constitui uma parte importante do espaço cibernético. Para construir rede 5G, o Japão está promovendo um modelo de 5G (Open RAN) que é aberto e seguro, e pode atender com flexibilidade às diversas necessidades. Este é um modelo que permite que as operadoras de telecomunicações construam uma rede 5G ideal, aproveitando os pontos fortes de vários fornecedores, sem precisar depender de uma única empresa particular. Fornecedores japoneses, como NEC e Fujitsu, que estão ativos no Brasil há muitos anos, têm a capacidade de construir até mesmo uma inteira rede 5G. Mas estou ciente de que essas empresas estão prontas também para contribuir, cooperando com outros fornecedores no modelo de Open RAN. Dessa forma, o Japão, tanto o governo quanto o setor privado, está pronto para fornecer ao Brasil soluções abertas e seguras, assegurando cadeias diversificadas de suprimentos, tanto para desenho institucional como para a construção da infraestrutura de rede. O Brasil tem um histórico de ótima cooperação com o Japão na área digital, de muitos anos. Por exemplo, o Brasil é o primeiro país fora do Japão a adotar o padrão japonês de TV digital terrestre. Com base nessa cooperação acumulada, gostaria de cooperar também firmemente na construção da rede 5G no Brasil.

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