Há gente que não faz a mínima ideia do que seja um mangá ou um anime e que, depois de serem explicados, lembram-se “daqueles desenhos japoneses, cujos personagens têm olhões”!
Há aqueles que conhecem apenas alguns clássicos populares, como o “violento” e “estridente” Dragon Ball, a “febre” Cavaleiros do Zodíaco e, talvez, Naruto.
Há os que sabem da existência tão somente daquelas animações que seus filhos menores adoram, sem que eles saibam muito bem o porquê, como, Pokémon, Digimon e, com sorte, Yu-Gi-Oh.
Há os saudosistas, que se lembram de Pirata do Espaço e Patrulha Estelar, e, com algum esforço, que Speed Racer também era um anime.
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Mas há aqueles que entendem de tudo e mais um pouco – conheço uma blogueira que aprendeu japonês assistindo Naruto! – sobre os animes (animações japonesas) e mangás (quadrinhos japoneses), os quais, ao contrário do que ocorre em nossa cultura ocidental – que em grande parte ainda costuma relacionar HQ’s e “desenhos animados” como sendo produtos de mídia voltados apenas para o público infantil – no Japão são consumidos a rodo, por todas as faixas etárias, gêneros, idades e classes sociais. Há uma verdadeira adoração pelos autores de mangás e animes e suas obras no país do sol nascente.
Nesse sentido, apesar do traço extremamente característico das produções (os “olhões”, as expressões caricatas, os trejeitos típicos etc.) é possível observar a variedade impressionante de títulos e temáticas dos quadrinhos e animações japonesas.
Há produções claramente infantis, como o já mencionado (e mais popular) Pokémon; há aqueles direcionados para um público “de transição”, que vão desde os mais “leves” como Dragon Ball, Cavaleiros do Zodíaco, Naruto, One-Punch Man, One Piece, chegando aos mais “adultos”, que contam com mais sangue, insinuações sexuais mais abertas e temas mais pesados, como Sword Art Online, Os Sete Pecados Capitais, Tokyo Ghoul, Fullmetal Alchemist Brotherhood, Death Note (fantástico!) e por aí vai.
Chega-se, então, aos notadamente “adultos”, com violência extrema, algumas cenas de nudez e sexo, quase considerados “indies”, como Baki, Parasita, Ataque dos Titãs, Berserk, entre outros.
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No extremo, tem-se os Hentais, voltados para a produção eminentemente pornográfica, que pode ser realmente extrema para a mentalidade ocidental.
A maioria desses animes costumam derivar de mangás, podendo, como os citados acima, serem transformados em séries continuadas de longa duração (como Dragon Ball e One Piece, com mais de 600 episódios!) ou convertidos em longas metragens. Mas isso não é regra. Há aqueles animes feitos diretamente para o cinema, que também costumam arrastar multidões de japoneses às salas de exibição.
Há uma grande vantagem em se trabalhar com animação e quadrinho, pois a imaginação do realizador só encontra limites na competência dos desenhistas em retratarem suas ideias.
Desse modo, é possível conceber um mundo mágico como em O Castelo Animado, e uma estação de águas para fantasmas e deuses, como em A Viagem de Chihiro, ambos do grande Hayao Miyazaki; ou o mundo tecnológico e distópico de Ghost In The Shell, de Masamune Shirow, e o de Battle Angel Alita, de Yukito Kishiro.
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Os temas, como dito, variam muito, alguns com uma deliciosa subversão dos mitos ocidentais (Os Sete Pecados Capitais é magistral exemplo disso), mas em todos é possível sentir a cultura japonesa fortemente presente, que se manifesta no olhar diferenciado para as coisas, fatos, comportamentos. Não à toa, têm uma legião gigantesca de fãs ardorosos, que se desdobra em consumidores de revistas, livros e filmes, até aos famosos cosplays.
Dentro dessa imensa gama de produções, algumas se destacam, extrapolando as barreiras culturais e linguísticas para se tornarem clássicos absolutos. A Viagem de Chihiro ganhou – com méritos de sobra – o Oscar de Melhor Filme de Animação em 2003. Outros há que, no Japão, tornaram-se sucesso absoluto, apesar de ainda pouco conhecidos no Ocidente, o que é uma pena monumental, haja vista a inquestionável qualidade da produção.
É o caso de Your Name (Kimi No Na Wa), baseado numa série fechada de mangás homônimos concebida por Makoto Shinkai, que foi transformada em filme animado, lançado em 2016 e que quebrou todos os recordes de bilheteria do seu país de origem.
(não à toa, esta é a terceira crítica deste filme feita aqui no Nerdtrip! Leia as outras duas abaixo!!!)
E não foi por menos o sucesso arrebatador desse anime.
O argumento é ótimo e intrigante: a interiorana, sonhadora e entediada estudante secundária Mitsuha, da pequena cidade montanhosa de Itomori (da qual seu distante pai é prefeito, o que a faz morar com a avó e irmã mais nova), próxima à passagem de um cometa pelos céus do país, simplesmente começa a trocar de corpo com Taki, um garoto também secundarista de Tóquio, possuidor de uma vida intensa e agitada, entre trabalho e estudos.
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Dessa premissa simples, Makoto Shinkai constrói uma fábula de amor, fantasia e poesia repleta de humor, sensibilidade e beleza, capaz de entreter, fazer pensar e emocionar. Nas mãos de um autor menos competente e sensível, a trama poderia se banalizar, mas, com Shinkai, cada troca de corpo entre os personagens é deliciosa, mesmo que às vezes as consequências desse fato inusitado e inexplicado sejam apenas mencionados no dia seguinte à troca e não explicitamente mostrados.
Um belo dia, as trocas, do mesmo modo que se iniciaram, cessam, o que motiva Taki a iniciar uma investigação sobre as origens de Mitsuha, até chegar a uma descoberta dramática.
Qualquer coisa a mais que se fale sobre a trama certamente estragará a surpresa da história e seu belo desenvolvimento.
Pode-se, por outro lado, ressaltar a beleza da animação. O estúdio CoMix Wave Films, responsável pelos desenhos consegue produzir verdadeiras obras de arte em forma de pintura em certos quadros e sequências. Algumas tomadas e enquadramentos são de tirar o fôlego, tanto das montanhas de Hida, quanto dos arranha-céus de Tóquio.
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O anime provoca emoções, tensões e expectativas em igual medida, sem perder o bom humor. Realmente uma obra-prima.
O melhor mesmo é largar esse texto e buscar pelo filme no catálogo da Netflix e gastar um tempo em família para curtir essa belíssima obra e exemplar da animação japonesa.
Não deixe de assistir a Your Name. Mas vai com um aviso: você corre sérios riscos de se apaixonar pelos animes, que devem ser apreciados, em casa, preferencialmente acompanhados por um delicioso sushi e/ou uma dose de saquê!
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