Catástrofes de agosto

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Catástrofes de agosto

No entardecer da última terça-feira, duas gigantescas explosões na região portuária de Beirute provocaram ondas de choque que estremeceram o solo, estilhaçaram portas e janelas, danificaram edifícios, destruíram mais da metade da cidade, mataram cerca de 150 pessoas, feriram aproximadamente cinco mil. O choque, sentido no Chipre, a 240 km de distância, foi registrado como um terremoto de 3,3 graus de magnitude. Beirute, antes da Guerra Civil Libanesa considerada “a pérola do Oriente”, com mais de três mil anos de existência e rica cultura alicerçada pelos diversos povos que a constituíram, foi tomada por nuvem de fumaça tóxica.

Imagens impressionantes rodaram o mundo instantes depois, mostrando a devastação. Por quinze anos (1975-1990) aterrorizados por bombas, os libaneses pensaram tratar-se de mais uma, de poder letal ao qual não tinham sido ainda apresentados. Mas logo circularam notícias dando conta de que a tragédia fora causada por armazenamento indevido de 2750 toneladas de nitrato de amônio.O prefeito de Beirute, Marwan Abboud, entre lágrimas, afirmou que em toda sua vida não vira cenário como aquele e o comparou à destruição das cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki.

A propósito, neste mês os japoneses estão lembrando os terríveis tormentos relacionados às duas cidades. Na manhã de 6 de agosto de 1945, os moradores de Hiroshima começavam a circular pelas ruas e pontes do rio Ota quando a primeira bomba atômica criada pelo homo sapiens (?) foi lançada sobre a cidade. A energia térmica liberada transformou o ar em uma bola de fogo de aproximadamente 1 km de diâmetro. No solo, a temperatura atingiu vários milhões de graus. Num raio de 1 km, tudo foi instantaneamente vaporizado e reduzido a cinzas; até 4 km do epicentro prédios e seres humanos sofreram combustão; 80 mil morreram no instante infernal; 90% dos prédios desapareceram ou ruíram. Três dias depois, quase no mesmo horário, uma segunda bomba foi lançada sobre Nagasaki, provocando igual destruição e a morte de 70 mil civis. Em 15 de agosto o imperador Hiroito anunciou a capitulação incondicional do país. Terminava a Segunda Guerra Mundial.

O povo costuma dizer que “agosto é mês de desgosto”. Contra essa proverbialidade já foram veiculadas muitas campanhas de esclarecimento, na tentativa de banir a superstição. Mas de repente fatos dolorosos ocorrem no mesmo mês e nos levam a pensar nas tristes coincidências. E se o prefeito se lembrou das cidades japonesas, eu me lembrei de Pompeia.

Foi no dia 24 de agosto do ano 79 que um forte estrondo seguido de abalo surpreendeu os vinte mil moradores daquela cidade amontoada no sopé do Vesúvio. Densa nuvem de 15 quilômetros de altura se ergueu do monte e o dia virou noite. Labaredas brilharam na escuridão; milhares de pedras atiradas para o alto caíram e sepultaram pessoas, animais e construções. Em sua casa, do outro lado da baía, vivia Plínio, o Velho, uma das maiores

Autoridades de sua época em fenômenos naturais. Homem de ciência, convocou nove homens e se pôs a caminho de Pompeia. As altas temperaturas e a densa neblina desviaram o barco para a vizinha Estábia, atingida depois de algumas horas por nova irrupção que fez mais vítimas, entre elas o cientista. Seu sobrinho, também Plínio, que ficara cuidando da mãe, tornou-se então a única testemunha que deixou relatos escritos sobre a tragédia. Suas cartas narrando os acontecimentos foram enviadas ao imperador Tácito e reunidas em livros, dos quais destaco um pequeno trecho: “A nuvem parecia-se muito com um pinheiro porque, depois de elevar-se em forma de um tronco, desabrochava no ar seus ramos. O Vesúvio brilhava com enormes labaredas em muitos pontos e grandes colunas de fogo saíam dele, cuja intensidade tornava mais ostensivas as trevas.”

No caso de Beirute e das duas cidades japonesas a culpa pela catástrofe (palavra grega que significa “fim súbito”) foi do homem. Em Pompéia, um fato da natureza. Mas é curioso perceber que todas tiveram suas histórias mudadas em agosto, mês que os romanos dedicavam a Vulcão, o deus do fogo e da metalurgia.

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