Sem Bom Odori neste ano, lives vão reforçar laços dos baianos com a cultura japonesa

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Sem Bom Odori neste ano, lives vão reforçar laços dos baianos com a cultura japonesa

Agosto é um mês de expectativa para muitos baianos amantes da cultura japonesa, porque é quando acontece o tradicional Festival de Cultura Japonesa de Salvador, conhecido como Bon Odori.

É o momento que todos os descendentes de japoneses, os nikkeis, se animam para viver um pedacinho do Japão sem sair de casa. O Festival de Cultura Japonesa reúne gastronomia, música, dança, mangás, animes, feira de produtos orientais, cosplay, oficinas, concursos e até parque de diversões.

Mas o que atrai o administrador Vito Magarão, 26, são todas essas manifestações culturais e artísticas em um clima voltado para família e amigos. “A festa sempre foi muito importante para mim, porque me conectava com amigos que não eram muito próximos. Pensar no Bon Odori sempre me traz ótimas memórias”, diz.

E mesmo com um público maior a cada ano, o evento ainda consegue manter essa atmosfera familiar a que Vito se refere: “Tem muitas atividades a serem feitas, inclusive passar um tempo sentado no gramado, que é uma coisa que eu valorizo muito”. Sem possibilidade de o evento acontecer, ele lamenta o adiamento e se diz ansioso para a 14ª edição em 2021: “Ter um evento desse na agenda da cidade é importante para a disseminação da cultura e permite que as pessoas que se identifiquem com os costumes possam passar alguns dias imersos”.

Assim como para Vito a cultura traz boas lembranças, para Rui Omuro participar do festival também estreita a sua relação com a cultura de sua família. Ele tem uma barraca de comida japonesa, mas procurou inovar, já que a praça de alimentação do festival era predominantemente de barracas de sushi e yakissoba.

Esse seria o quarto ano que participaria como vendedor. Começou com karaguê, um prato feito com frango empanado, e o oniguiri, um bolinho de arroz que, apesar de muito comum e tradicional no Japão, aqui não se costuma encontrar com tanta facilidade.

“O conhecimento da cultura japonesa aqui na Bahia era pequeno há 10 anos, quando cheguei, e acho que o festival ajudou muito nessa disseminação da cultura oriental, não só pela culinária, mas de modo geral”, analisa.

Jorge Luís Santos, dono da Crazy Animes, loja de produtos da cultura geek, onde grande parte é relacionada com o Japão, conta que o trabalho vem de uma paixão pela cultura desde novo. Ele conta que o mês que antecede o festival é intenso e faz falta: “É mágico. Esse ano, sem o Bon Odori, é como se não existisse no calendário”.

Além da paixão pessoal pela cultura, ele se encanta com a felicidade dos frequentadores do evento: “O mais legal é ver a alegria e o brilho nos olhos de quem vai ao nosso estande e encontra algo que só tem lá, que pode ser algo simples, como um bottom de um personagem diferente. Isso é bem gratificante”.

Perdas

O paulistano Rui tem uma hamburgueria e conta que, além do prejuízo para a cultura, a não realização do evento também vai pesar no bolso. “O Bon Odori dá um respiro para o orçamento, e terminamos o segundo semestre do ano com mais tranquilidade”, reforça.

A esposa de Rui, Luara Omuro, começou um pouco antes, expõe no festival há oito anos e tem uma lojinha de produtos japoneses, principalmente de culinária, mas também utensílios para a casa. Durante os três dias de Bon Odori é como se somasse um mês da venda em loja no seu faturamento. “É um evento de divulgação da cultura e dos produtos japoneses. É ótimo porque a gente consegue mostrar mais da culinária que não conhecem muito por aqui”, conta.

Para o primeiro restaurante japonês de Salvador, o Sukiyaki, que participa do evento desde o início, o festival também vai fazer falta. Marcos Shimizu conta que neste mês a preparação é intensa e a festa é uma das maiores do ano para eles. O restaurante da família de Marcos costuma montar duas barracas: uma de sushi e outra de lámen e udon, sopas japonesas feitas com massas artesanais.

“Além da venda, o festival é importante para a divulgação do nosso negócio, porque um dos pratos, o udon, não é difundido ainda na cidade e muita gente conhece por lá”, pontua. Ele também participa do evento desde criança e fica feliz com a proporção que a festa tomou: “Neste ano, vamos ter também a perda cultural e da tradição que o evento proporciona”.

Jorge também tem sentido a falta do Bon Odori, já que é um dos maiores eventos de que participa em todo o Brasil, expondo seus produtos. Mesmo tendo duas lojas físicas em Salvador, em três dias de do evento ele diz que vende o equivalente a dois meses do ano. “É uma perda financeira imensa. É como se fosse o nosso Natal. O festival daqui é o melhor e não perde para nenhum do país”, comenta.

O nome Bon Odori faz referência a dança – aquela mesma que acontece no final de cada dia do festival e é sempre a última grande atração da festa. Quando começou a ser realizado em Salvador, em 1991, era chamado apenas de Bon Odori, mas ganhou uma proporção tão grande que, em 2006, tornou-se o Festival de Cultura Japonesa.

A festa também acontece no Japão, durante o verão, entre os meses de julho e agosto. A tradição vem do budismo para celebrar as almas dos antepassados e, apesar de ser como o Dia de Finados no Brasil, são tocadas músicas tradicionais alegres e é quando as famílias aproveitam para se reencontrar nas suas cidades de origem.

União

A presidente da Associação Cultural Nipo-Brasileira de Salvador, Lika Kawano, conta que, em maio, decidiu fazer algo para o mês de agosto não passar em branco.

A live Japão no Nordeste, marcada para os dias 29 e 30 deste mês, será um evento que, além de destinado ao público de Salvador, deseja alcançar também outras partes do país.

Ela diz que convidou associações de diferentes estados do Nordeste para criar uma união maior da região, e todos adoraram a ideia: “Essa foi a melhor parte. Podemos mostrar a nossa força e interagir com todo o Nordeste e com o Brasil”.

A live promete contar com oficinas, apresentações e até dança. “O carinho que o baiano tem pelo evento é único. As pessoas esperavam que fizéssemos algo. Ficamos muito felizes”, completa.

Para quem está com saudade da experiência com a cultura japonesa, é possível visitar a lojinha da Luara, a Tsuki, na rua Minas Gerais, na Pituba, onde se encontra desde temperinho de arroz, o furikake, até artigos de decoração, como o Maneki Neko (gatinho da sorte).

Para viajar um pouco do mundo geek, a loja de Jorge está funcionando nos shoppings Lapa e Salvador Norte e tem até máscara com temas especiais.

E se quiser conhecer um prato novo, experimente, nas noites em que as temperaturas estiverem mais baixas, o udon do Sukiyaki, que fica em Ondina e está com delivery.

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