Do lado de fora, a casa modesta de Edson Suemitsu, de 61 anos, não parece diferente de outras do bairro de classe média de Curitiba. Mas basta cruzar a entrada para encontrar um jardim sob um portão largo e vermelho, conhecido como torii. Na garagem, é frequente encontrar Suemitsu debruado sobre uma mó ou uma bancada, trabalhando em uma das centenas de espadas que ele fabricou ao longo dos anos.
Suemitsu não é nem de longe a única pessoa que ganha a vida produzindo katanas, um tipo de espada encurvada usada pelos samurais no antigo Japão feudal. Mas, sendo um morador de longa data do Brasil, isso pode parecer improvável. Encorpado e grisalho, Suemitsu disse que se interessou pela produção de katanas quando seu avô nascido no Japão forjava lâminas para se defender de cobras venenosas em sua fazenda.
Ao se mudar para Curitiba, no final dos anos 1960, ele aprendeu a arte da fabricação das katanas em grande parte por tentativa e erro, disse. Mais tarde, seu trabalho obteve grande aceitação. Ao longo de 42 anos, Suemitsu fez cerca de mil espadas, cujos preços variam de 6 mil a cerca de 20 mil reais, e disse que tem clientes até no Egito. Sendo o único forjador de katanas em tempo integral, a imprensa local o apelidou de “último samurai do Brasil”. Suemitsu se diverte com o título, mas o considera um pouco enganoso, já que muitos descendentes de japoneses que moram no Brasil têm ancestrais samurais.
Entre os segredos da fabricação das katanas, disse Suemitsu, estão qualidades intangíveis, como a fé. Ele também diz que a herança japonesa é essencial. “Primeiro, tem que ser japonês, pensar como um japonês, ter um espírito japonês. Então, se eu, como nipo descendente, dança samba, não dá certo… Fica estranho.”
Suemitsu forja a lâmina, feita de aço austríaco, sobre uma chama exposta. Ele passa dias afiando as espadas à mão sobre uma pedra úmida. Trabalhando durante longas horas, e também nos finais de semana, ele consegue fabricar três por mês. Suemitsu diz que no planeja se aposentar. Ele adoraria ter um sucessor, mas admite que seu ofício pode morrer com ele. “Não tenho sucessores, e não sei se vou ter sucessores, porque o trabalho é muito complexo. Não pode ser por dinheiro, tem que ser de coração.”