O dia 18 de junho marca a celebração dos 112 anos da imigração japonesa no Brasil. Vindo para cá em busca de novas oportunidades, os japoneses criaram raízes e ajudaram o país a se desenvolver em diversas áreas, incluindo o esporte. O Olimpíada Todo Dia relembra todos os atletas nikkeis (termo usado para denominar os japoneses e seus descendentes) que tiveram a honra de conseguir uma medalha olímpica.
O primeiro medalhista
O primeiro nipo-brasileiro a subir no pódio dos Jogos Olímpicos foi Tetsuo Okamoto. Natural de Marília, interior de São Paulo, começou a nadar aos sete anos, por sofrer problemas com asma. Com muito destaque na natação, principalmente nas provas de fundo, foi aos Jogos Pan-Americanos de Buenos Aires-1951, obtendo três medalhas, sendo duas de ouro (400 e 1500 metros livre) e uma de prata (revezamento 4?-200 metros live).
Um ano depois, nos Jogos Olímpicos de Helsinki, na Finlândia, entrou para a história e se tornou o primeiro medalhista da natação brasileira. Com um tempo de 18min51s3, conquistou o inédito bronze nos 1500 metros livre.
Tetsuo Okamoto: o primeiro nikkei a conquistar uma medalha para o Brasil (divulgação CBDA)
Integrante do Hall da Fama do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Tetsuo faleceu aos 75 anos, vítima de insuficiência respiratória e cardíaca.
Japonês brasileiro
Vinte anos após o feito de Tetsuo, veio a segunda medalha nikkei, e primeira de um dos esportes que mais logros deu ao Brasil até hoje e que é de especialidade japonesa: o judô.
O primeiro medalhista olímpico brasileiro no judô nasceu no Japão. Chiaki Ishii tentou a classificação para os Jogos Olímpicos Tóquio 1964 por seu país-natal, mas perdeu a seletiva. Frustrado, mudou-se para tentar a sorte pelo Brasil.
Aqui se naturalizou e conquistou diversos títulos nacionais, sul-americanos, pan-americanos antes de entrar para história ao conquistar as tão sonhadas e, até aquele momento, inéditas, medalhas de bronze no Campeonato Mundial (1971) e na Olimpíada de Munique de 1972.
Ishii fundou a Associação de Judô Ishii, que até hoje foca no ensino do judô no Brasil. É um dos grandes responsáveis pelas 22 medalhas olímpicas que a modalidade conquistou até hoje. É pai de Tânia e Vânia Ishii, ex-judocas que também defenderam o país nos Jogos Olímpicos.
O segundo bronze
O feito de Chiaki Ishii inspirou o surgimento de novos judocas no Brasil. E 12 anos após o feito do imigrante japonês, o judô conseguiu mais uma medalha de bronze olímpica. O responsável foi Luiz Onmura, na categoria até 71 kg em Los Angeles-1984.
O nikkei sofreu para conseguir a medalha de bronze. Sua luta épica de sete minutos foi contra o canadense Glenn Beauchamp.
Onmura também participou dos Jogos Olímpicos de 1980, em Moscou; e de 1988, em Seul. Conquistou três medalhas de prata em Jogos Pan-Americanos.
A última do Século XX
Foram necessários 16 anos de espera para a próxima medalha olímpica nikkei. Novamente, ela foi conquistada por um judoca. Carlos Honorato, reserva da seleção à época que só chegou às Olimpíadas graças ao corte do judoca titular.
Na Olimpíada de Sidney-2000, a última do Século XX, o judoca de origem japonesa teve uma grande campanha na categoria até 90kg. Inspirado, venceu quatro lutas, deixando grandes adversários pelo caminho. Na grande final, chegou perto de se tornar o primeiro nikkei a conquistar uma medalha de ouro olímpica, mas acabou derrotado pelo holandês Marc Huzinga, ficando com a prata.
Quatro anos mais tarde, Honorato era o favorito para vencer o ouro, mas acabou caindo nas quartas de final. O judoca conquistou uma medalha de bronze no Mundial de 2003 e seis de ouro em Jogos Pan-Americanos entre 1994 e 2007.
Foto histórica
Doze anos mais tarde, nos Jogos Olímpicos de Londres, Felipe Kitadai conquistou a medalha de bronze na categoria até 60kg com muita emoção. Na manhã do dia 28 de julho, o judoca venceu duas lutas e chegou até as quartas de final. Em um luta dura, acabou derrotado e teve que disputar a repescagem.
O nikkei não se deixou abalar com a derrota, entretanto. Na parte da tarde, venceu duas lutas seguidas, com tons de dramaticidade: ambas foram ao golden score – quando o judoca que marca o primeiro ponto vence – sobre o sul-coreano Gwang-Hyeon Choi e o italiano Elio Verde, garantindo assim o lugar de Kitadai seu lugar no pódio.
Imediatamente após a medalha, a fotógrafa romena Gabriela Sabau tirou uma foto que entrou para o seleto grupo das dez melhores imagens registradas por fotógrafos da Federação Internacional de Judô (FIJ) entre 2010 e 2019. Nela, vemos Felipe Kitadai face a face com o técnico da seleção Luiz Shinohara, celebrando a conquista.
Duas de uma vez
Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro quatro anos atrás, uma marca histórica no esporte olímpico brasileiro conquistada por descendentes de japoneses. Pela primeira vez, duas medalhas foram conquistas por nikkeis em uma edição de Olimpíada.
Primeira feminina
A primeira medalha nikkei na Rio-2016 foi também a primeira conquistada por uma mulher. A responsável pelo feito foi Poliana Okimoto. A nadadora, que competiu profissionalmente dos 13 anos aos 34, fez história nas águas. Foi a primeira brasileira medalhista em Mundiais (Nápoles 2006) e em Jogos Pan-Americanos (Rio-2007). Em 2009, foi a primeira atleta a se tornar campeã da Copa do Mundo na distância Olímpica e estabeleceu o recorde de número de vitórias em uma mesma temporada (nove vitórias em 11 etapas).
Precursora na maratona aquática do Brasil, Poliana abriu portas para a nova geração da modalidade no país. Durante sua carreira profissional na modalidade, participou de todas as edições de Jogos Olímpicos até se aposentar. Talvez em seu melhor momento na carreira, passou pela frustração de não completar a prova em Londres 2012, quando sofreu com as águas geladas do lago Serpentine, no Hyde Park, e só saiu da prova após ter uma hipotermia constatada.
Um ano depois, contudo, ela iniciou sua recuperação com o título do Campeonato Mundial em Barcelona. Ficara para o Rio de Janeiro, onde já havia marcado seu nome para a história, conquistar o maior feito de uma nadadora brasileira até hoje: a medalha olímpica nos Jogos Rio 2016.
Nova modalidade
Por último, mas não menos importante, temos a medalha de bronze do campeão mundial Arthur Nory na Rio 2016.
Filho de mãe nadadora e de pai judoca, Arthur Nory Oyakawa Mariano cresceu em Campinas, sua cidade natal, como um apaixonado por esportes. Logo aos seis anos começou a dar seus primeiros passos esportivos.
A paixão pela ginástica começou no ano de 2004, muito marcante na história do país. Nory se inspirou em Daiane dos Santos, maior figura da ginástica feminina à época, e em Diego Hypólito, primeiro grande destaque da ginástica masculina. Iniciou assim a trajetória em dois esportes.
Na Rio 2016, na prova do solo, Nory ficou em nono na classificação geral. Como dentre os oito primeiros classificados para a final havia 3 atletas japoneses e as regras da ginástica não permitem que mais de dois competidores de um mesmo país avancem para brigar por medalhas, Nory herdou uma das vagas. Com uma apresentação sólida, superou favoritos e conquistou a medalha de bronze. Ficou junto no pódio junto com Diego Hypólito, sua referência e medalhista de prata na competição.
Nory é uma das maiores esperanças nipo-brasileiras para os Jogos de Tóquio 2020. O atual campeão da barra fixa chegará ao país de origem de sua família como um dos favoritos a conquistar a oitava medalha nikkei para o Brasil. Será que finalmente virá uma dourada?