E aí Rodrigo, qual é o seu propósito de vida? Eu tinha um mix de frustração e ansiedade quando me faziam esta pergunta. O que pode ser mais difícil que descobrir e principalmente conciliar o que você faz ou trabalha com o seu propósito? Para piorar, ultimamente, esta palavra virou uma buzz word, está em todos os cantos, muitas vezes com o seu significado desvirtuado.
Me veio à mente, não me recordo bem quando escutei a primeira vez a definição da palavra japonesa ikigai: “propósito: razão de viver, objeto de prazer para viver”.
Diante desta definição, fui em busca do meu Ikigai. Quando iniciei os meus planos como empreendedor, decidi primeiro testar se o meu hobby, cozinhar para os amigos e para a família, poderia virar uma profissão. Fui cursar gastronomia e, após 2 anos, adorei o ofício e achei que seria uma boa trilhar esse caminho. Mas e o tal do propósito? Nada de aparecer!
Eu havia decidido que meu caminho só seria genuíno se realmente estivesse conectado com o meu propósito. Portanto, encontrá-lo era o primeiro passo.
Não sabia muito bem por onde começar. Então resolvi conversar com as pessoas mais próximas, poderia achar alguma inspiração. Conversei com algumas afortunadas com seu propósito claro, bem definido e nobre. Conversei com várias outras que, como eu, estavam em busca do seu propósito de vida, mas ainda perdidos, esperando vir uma luz divina com a definição pronta, embrulhada para presente. Conversar principalmente com esse segundo grupo aliviou um pouco a pressão, não me sentia mais solitário e nem um peixe fora d’água.
Bem, esta primeira tentativa me serviu como alento, mas não tive sucesso na minha busca. O próximo passo foi recorrer à literatura, ler livros, talvez esses seres mais eloquentes, os escritores de best sellers, poderiam me ajudar. Devorei alguns livros: Organizações Exponenciais do Salim Ismail, Propósito do Sri Prem Baba, Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso da Carol Dweck, O Poder do Agora do Eckhart Tolle. Adorei conhecer as diferentes perspectivas destes autores e recomendo a leitura de todos estes excelentes livros. Ao ler o livro Ikigai – Os Segredos dos Japoneses Para Uma Vida Longa e Feliz do Héctor Garcia e Miralles Francesc, descobri que a resposta para a minha pergunta não estava no mundo exterior. Eu deveria buscar na minha essência, acalmar os meus pensamentos, a minha ansiedade e sobretudo, ouvir a minha voz interior, conectar comigo mesmo. Opa! o primeiro passo fora dado.
Há inúmeras formas de se fazer esta auto conexão: meditação, psicanálise, esporte, uma viagem, isolamento. Confesso que tentei todas estas, mas no meu caso, aquilo que buscava, somente encontrei na espiritualidade. Frequentava reuniões semanais e numa destas, acho que em 2009, conversando com meus guias e guardiões, vieram, como um sopro aos meus ouvidos, as palavras SERVIR e CONECTAR.
Caramba! Fazia muito sentido. Alimentação saudável congelada, eu estaria servindo nossos clientes, ajudando a se alimentarem melhor e me conectando a pessoas com interesses em comum, de saudabilidade, bem alimentar o corpo: mens sana in corpore sano.
Depois disso montei a minha empresa, a Botica Gastronômica, e sempre perguntava ao time: “O que vendemos para os nossos clientes?” – a resposta era sempre a mesma. “Ora, pratos congelados”. Eu enfatizava que SERVÍAMOS nossos clientes vendendo saúde e principalmente o ativo mais importante, tempo. Ao invés de passar horas preparando um prato saudável e saboroso, eles poderiam aproveitar para estar com suas famílias e amigos, fazer o que realmente gostavam. Confesso que percebia um brilho diferente nos olhares dos nossos colaboradores ao se depararem com o nosso propósito. Saberem que o alimento congelado que servíamos não era o “como”, mas sim “o que” – era algo muito maior e importante.
Depois de fechar a Botica, devido a necessidade de retornar urgentemente ao mundo corporativo, acabei por um tempo afastado do meu propósito, constatei como é difícil trabalhar em algo que não esteja conectado a ele.
Hoje, trabalho na Serasa Experian, uma empresa cujo propósito é bem claro “Criar um amanhã melhor”. Consegui retornar ao grupo dos que conversei no início da minha jornada, que possuem propósitos claros, bem definidos e nobres e principalmente aplicá-lo no dia-a-dia. Sirvo as pessoas através do meu trabalho e me conecto e as ajudo a se conectarem em prol de um bem maior.
Recentemente, participei de uma Live bem bacana com a Stella Brant que é a CMO da Liv Up, uma foodtech que desenvolve um trabalho muito inspirador, quando ela disse a seguinte definição de propósito que resumi nessa ilustração:
Achei essa definição muito simples e pragmática; resume bem o que devemos buscar. Sei que não é fácil, levei uns 5 anos ou mais nessa jornada de busca do propósito. Sei que muitos de vocês ainda estão passando por esta etapa, ou já desistiram. Se eu puder contribuir, digo para encontrarem a SUA forma de se conectarem consigo mesmos, de autoconhecimento, de buscarem o que fazem de melhor. Cada um foque no que realmente é bom e depois, se achar importante, dedique esforços para trabalhar seus pontos de melhoria.
Ao descobrir o “A”, o que você faz de melhor, comece exercitando no seu dia-a-dia, com as pessoas que te cercam ou nos lugares que frequenta. É uma disciplina constante, usar o que você faz de melhor para construir o seu mundo, o mundo da sua família e amigos, dos seus colegas de trabalho, dos seus clientes MELHOR. Pronto, você achou o seu A?B.
Não será uma tarefa fácil, às vezes chega a ser frustrante. Mas será uma jornada rica pelas pessoas que irá encontrar ao longo do caminho, pelo autoconhecimento e por contribuir com esta sublime e gratificante missão de construir um mundo melhor.
Boa jornada e espero ter contribuído na busca do seu Ikigai!