“Era uma vez em Tóquio”: Um entre os melhores filmes de todos os tempos

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É unanimidade no universo dos jornalistas, cronistas e críticos de cinema que Era uma vez em Tóquio, do Japão é um dos melhores filmes já realizados. Para os ingleses do legendário British Film Institute, de Londres, Tôkyô Monogatari sem dúvida é um dos três melhores produzidos até os dias de hoje. E não há cinéfilo que, se ainda não o conhece, pelo menos já ouviu falar ou leu sobre o filme de Yasugiro Ozu, considerado o pai dos diretores do cinema asiático. Isto, declarado por todos eles: japoneses, chineses e coreanos.

Considera-se Ozu mais japonês – se isto é possível – quanto Kurosawa e Misoguchi, outros dois cineastas emblemáticos do esplêndido cinema do país do sol nascente.

A história singela de Viagem a Tóquio (o título que o filme ganhou em Portugal) foi escrita por Ozu com a parceria de Kogo Noda, o célebre roteirista e seu colaborador de vida inteira. Ele já tinha 50 anos de idade, em 1953 e antes dirigira dezenas de filmes mudos quando lançou sua obra prima.

O filme dura pouco mais de duas horas. O espectador não sente o tempo passar tal a imersão na realidade apresentada, na rotina, no drama e na força da aparente simplicidade. Com Pai e filha, de 1949, e Também fomos felizes, de 1953, ele completa uma trilogia consagrada sobre relações familiares entre jovens e idosos numa época de pós guerra bastante delicada para a sociedade japonesa. O país fora bombardeado duramente e rendera-se às forças americanas apenas quatro anos antes de Pai e filha estrear. As cidades se encontravam em ruínas, Tóquio se reerguia a duras penas, as chaminés das fábricas voltavam a funcionar (são imagens recorrentes no filme) e a ocupação cultural americana era agressiva e dirigida também ao cinema japonês da época com o objetivo de ocidentalizar costumes e minimizar valores da cultura japonesa milenar – uma ilusão.

Na trilogia desses filmes de Ozu pode ser observado o movimento do mestre driblando essa tendência impositiva do vencedor, em particular nos figurinos das roupas usadas por seus personagens, em rápidos comentários musicais e em determinados hábitos como o de beber com amigos sentados nos bancos dos balcões de bares.

Mas o que há de novo agora, neste momento difícil de isolamento e de restrições sociais que estamos vivendo e nos leva a procurar o streaming como opção cinematográfica é o fato de o Youtube oferecer alguns filmes dirigidos pelo mestre além de Era uma vez em Tóquio e Pai e filho. Sonata em Tóquio, O sabor do chá verde sobre o arroz e também Filho único, o primeiro Ozu a estourar nas bilheterias do Japão, em 1936, todos eles se encontram nessa plataforma.

Cópias legendadas em português e de razoável qualidade nos trazem mais uma vez o cinema de Ozu, o diretor amado por Wim Wenders e Eric Rohmer e que amava Orson Welles. Os seus famosos espaços vazios, verdadeiros pontos finais em parágrafos cinematográficos, molduras para a rotina e da vida cotidiana de japoneses comuns. E a célebre câmera do tatame, colocada na altura dos olhos do personagem sentado no tapete, no chão.

Há sete anos anos Carta Maior publicou a crônica do lançamento, nos cinemas brasileiros, de um belo remake de Tôkyô Monogatari realizado por Yoji Yamada. Ele foi assistente de Ozu quando tinha 22 anos, estudava na Universidade de Tóquio, e assumiu um desafio perigoso. Refilmou a obra prima de Ozu sensei (sensei: o que fornece a direção; o instrutor) e deu o título ao seu filme de Viagem a Tóquio. Na mesma resenha foram feitos alguns comentários sobre o original, o filme assinado por Ozu.

Abaixo, um trecho desse comentário.

”O núcleo familiar sem aconchego, o tempo que escorre e passa no dia-a-dia, a rotina dos acontecimentos e também as perdas durante o percurso da nossa existência são componentes deste belo filme clássico no qual a profunda humanidade dos personagens faz dele uma obra-prima universal – sem falar da sua austeridade estética, do rigor artístico, da meticulosa iluminação da fotografia em preto e branco, da limpeza e da perfeição na construção das imagens.”

Sugerimos (re)visitar o cinema de Ozu, o ”pai de todos”. É um dos grandes prazeres desses dias difíceis em que há a ilusão do tempo, desacelerado, parecer escoar mais devagar.

Assista a ‘Era uma vez em Tóquio’ legendado em português no Youtube:

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