5 jogos japoneses que apaixonaram

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5 jogos japoneses que apaixonaram

Todos temos os jogos da nossa vida. Os que nos marcaram, moldaram, ensinaram, fizeram pensar e os que nos proporcionaram (e ainda proporcionam) incontáveis horas de entretenimento. Ao longo do tempo, felizmente, já me vieram parar aos dedos, várias vezes por mero acaso, alguns títulos impossíveis de esquecer. Quando tento seleccionar os que reúnem aquelas características, inevitavelmente a memória entrega-me os que joguei quando era mais novo.

Tem sentido. Os primeiros apareceram quando a minha personalidade, gostos e forma de pensar, ainda estavam em formação. É tudo mais maleável nesse período. Claro que o mérito é dos títulos e do trabalho neles colocado, mas existem pormenores que só nos marcam por estarmos numa fase de vida em que somos mais impressionáveis e na qual temos muito por aprender. Certamente terão reparado que, quanto mais jogam, mais difícil é encontrar um jogo que se marque, que molde, ensine, e que tenha um grande impacto, por muito que continue a proporcionar as horas de entretenimento.

Quando pensei nisso, decidi criar uma lista de 5 jogos japoneses (entre outros que ficam para uma segunda parte) que apenas uma profunda senilidade poderá apagar da minha memória. A intenção é recomendar os títulos que, apesar de mais antigos, permanecem merecedores de atenção. Parte deles marcam o início de adoradas franquias e são responsáveis por inovar o gênero do qual fazem parte.

Os jogos não estão ordenados por preferência. Seria tarefa impossível. Optei por ordem de lançamento, até porque terá sido neste seguimento que os joguei.

Metal Gear Solid (1998) – PlayStation 1 – Konami

Corria (provavelmente) o Verão de 99, ou de 2000, quando um amigo dos meus pais considerou que, com 8/9 anos, estava pronto para enfrentar Metal Gear Solid e me emprestou o jogo. A minha biblioteca de jogos era minúscula e com pouco valor, mas a regra não pronunciada entre jogadores ditava que, em caso de empréstimo, tínhamos de fazer uma troca equivalente. A memória diz-me que lhe emprestei, imaginem só, o Casper e o Hugo. Estes dois em troca de Metal Gear Solid. Quer tenha aceitado só para me fazer a vontade ou porque os queria jogar, a situação continua a ter alguma piada.

Todos os jogadores têm aquele momento “ah!!… os jogos também podem ser isto?”. Para mim esse momento chegou com Metal Gear Solid. Os créditos iniciais, a introdução, a dobragem, a construção cinematográfica e uns gráficos que, na altura, me pareciam estupidamente reais, colaram-me ao ecrã e ainda nem tinha começado a jogar. Depois de o fazer fiquei completamente apaixonado. MGS marcou-me, mas acima de tudo moldou o meu gosto por um gênero muito específico de videojogos: os stealth games.

Pokémon Blue (1999) – Game Boy – Game Freak

Durante alguns anos, o meu tempo livre, especialmente em viagens de carro, era passado a jogar sempre o mesmo: Pokémon Blue. Para além de ter poucos jogos (só tinha este e o Game and Watch Gallery 2), o que realmente me interessava jogar era Pokémon. Por esta altura, o anime era transmitido em força nas televisões, o que me influenciou a tentar replicar, com a maior fidelidade permitida pelo jogo, a história que via no anime. Ou seja, a partir do momento que descobri que em Viridian Forest se podia apanhar Pikachus, a minha forma de jogar Pokémon Blue mudou por completo. Com certas limitações claro, acabariam por me faltar sempre dois starters.

É um jogo que me ofereceu uma experiência muito completa, dentro e fora dele. Dentro, pelas razões acima mencionadas. Fora porque me ensinou inglês, porque me ensinou a tristeza de perder um save game e de que é possível jogar GameBoy em condições de iluminação fraquíssimas. Isso me levou a falar com desconhecidos para conseguir desencalhar de X ou Y lugar, porque criou tardes de torneios com o Game Link Cable e porque me levou à procura dos que tinham o Pokémon Red para transferir os exclusivos daquela versão. Além disso foi grande impulsionador da minha paixão por RPGs e foi o primeiro jogo que me permitiu replicar algo que adorava ver na televisão. Depois de Pokémon, a tecla A do meu Game Boy nunca mais foi a mesma.

Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories (2002) – PlayStation 1 – Konami

Este foi o primeiro jogo que me levou a ter um caderno dedicado. Passo a explicar: em Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories as regras do jogo são ligeiramente diferentes. Podemos ativar cartas sem tributo (como acontecia inicialmente na série). Ou seja, se tiverem um Dark Magician, podem colocá-lo diretamente no campo sem sacrificar uma carta. Para além de uma panóplia de regras próprias, a mecânica central era a possibilidade de fundir cartas sem recurso a específicas que permitam a fusão, como a “Polymerization”. E é aqui que entra a necessidade de me acompanhar de um caderno: nem todas as cartas podiam ser combinadas e o jogo não fazia o obséquio de informar. Isso significa que umas valentes horas iniciais do jogo são passadas a tentar todas as combinações possíveis e consequentemente, a ver o ecrã de Game Over. Quando finalmente acertava uma combinação, apontava a carta e as características. Além de combinações de 2 cartas, existiam combinações de 3 e combinações com fusões acabadas de executar. Imaginem lá a quantidade de possibilidades e tentativas necessárias para descobrir o suficiente, de modo a progredir no jogo.

O jogo não ensina nada de especial. Mas lembro-me que, numa era onde as respostas não estavam à distância de uns cliques, a experiência dessa limitação foi o que me fez gostar dele. As horas de estudo, de análise, apontar todos os detalhes, as tentativas e os erros, apontar de novo, riscar, medir que fusão devia fazer consoante o inimigo, pesquisar nos meus apontamentos por todas as combinações qual seria a melhor, perceber se devia fundir ou esperar por outra carta para obter uma fusão melhor. Foram muitas horas de frustração, mas de grande entretenimento…

Dragon Ball Z: Budokai 3 (2004) – PlayStation 2 – Dimps

Dragon Ball Z: Legends (1996), na Sega Saturn, maravilhou-me de uma forma inexplicável. Foi a primeira vez que vi o meu adorado Dragon Ball numa consola e desconhecia essa possibilidade. O story mode permitia jogar com três personagens ao mesmo tempo, para recriar os combates do anime. Porém, foi apenas em finais de 2004 que o pináculo de Dragon Ball chegou às consolas, com Budokai 3.

No story mode podemos voar pelo mundo para concluir a linha principal e ainda procurar as bolas de cristal, invocar o dragão sagrado e pedir desejos! Claro que gostei muito deste modo, mas a força de Budokai 3 está nos modos de batalha (o Duelling onde podemos lutar contra outro jogador em 1vs1 e o World Tournament onde podemos recriar o torneio de artes marciais). O excelente modo de batalha é acompanhado de um roster surpreendentemente completo, desde o Kid Goku ao Omega Sheron, com transformações e fusões in game!

O jogo tem uma mecânica tão completa e interessante que me fazia sentir o melhor oferecido pelos 2D Fighting Games e, ao mesmo tempo, que estava realmente a jogar o estilo de luta visto no anime. Ainda não perdi a esperança de um “Budokai 3” para a nova geração. Embora entenda a improbabilidade, uma vez que Dragon Ball FighterZ já ocupa, de certa forma, esse lugar.

Shadow of Colossus (2006) – PlayStation 2 – Team Ico

A minha relação com Shadow of Colossus começou em 2006/2007 na PlayStation 2, foi posteriormente renovada com o remaster na PlayStation 3 e falta tocar no remake para a PlayStation 4. É já uma relação longa e muito atribulada, especialmente porque sinto que é de amor/ódio. De amor porque o jogo é perfeito. De ódio, porque desde então mais nenhum me fez sentir o mesmo. Amaldiçoou-me. Sempre que agarro num jogo novo, e o completo, é inevitável comparar a experiência com Shadow of Colossus. O que faz pouco sentido, por vezes os títulos não são sequer comparáveis. Sinto-me como Wander, o protagonista do jogo. Ele tem de aniquilar Colossus com objetivo de ressuscitar a amada. Eu completo jogos, com o objetivo de ressuscitar a experiência única que tive com Shadow of Colossus.

A história abstracta, a ausência de pistas ou tutoriais, a questionabilidade das nossas ações, o ambiente e arquitetura do mundo, as animações das personagens, o gameplay irrepreensível (dos movimentos mais simples aos mais complexos, a pé e a cavalo), a apurada responsividade dos controles que nos culpa se falharmos, a épica e desoladora banda sonora, a mecânica do jogo ser construída apenas por “Bosses finais”… Tudo isto e muito mais transformam numa viagem frenética, emocional e estranhamente imersiva. Eu estive ali, matei aqueles Colossus, duas vezes e a caminho da terceira… quando tiver uma PlayStation 4. Se um dia alguém perguntar se os videojogos podem ser considerados arte, e de que forma, a resposta é Shadow of Colossus.

É natural que olhem para esta seleção e pensem onde estão os Megaman, os Castlevania, os Metroid, os The Legend of Zelda e por aí fora.

É importante perceber que esta lista mergulha nos anos 90/início de 2000, uma época em que não tinha acesso à Internet (portanto não podia fazer download de qualquer jogo), uma época em que não tinha poder de compra (pelo que as minhas escolhas e conhecimento estavam limitadas ao que me era oferecido ou emprestado), de maneiras que há muita coisa que é considerada must-play, e que fez parte de muitas infâncias, mas não está aqui presente.

Estes são os jogos da minha vida. Os que tive acesso e que fazem parte do meu crescimento. Quais os vossos?


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