Velhice no Japão

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Velhice no Japão

Os ideogramas que tomo emprestado para ilustrar esta crônica formam uma frase em japonês. Lê-se “Keiro no Hi” e significa em português “Dia do Respeito aos Idosos”. A celebração foi criada em 1947, em uma pequena cidade na província de Hyogo, localizada na ilha de Honshu. As festividades tornaram-se tão populares que, em 1966, foram oficializadas como um feriado nacional.

Celebrado sempre na terceira segunda-feira do mês de setembro, é um momento para os japoneses visitarem seus parentes e amigos idosos ou simplesmente aproveitarem o dia com atividades de lazer e bem-estar junto aos que viveram mais e por isso têm repertório para contar e valores a inspirar.

O Japão é o país cuja população possui a maior taxa de expectativa de vida do mundo. Segundo o Banco Mundial, cerca de 28% dos japoneses têm mais de 65 anos e, de acordo com dados de 2018, ocupam 12,9% dos postos de trabalho. Acredita-se que a longevidade deles esteja relacionada à alta qualidade de vida, combinada com uma alimentação saudável e atividades que estimulam o corpo e a mente.

Cultura preciosa sob todos os aspectos, e especialmente no que diz respeito à Vida, japoneses cultivam lindos jardins, elaboram uma culinária apreciada no mundo inteiro, desenvolvem arquitetura criativa, apostam na educação, valorizam as tradições e encaram os idosos como seres que tendo acumulado muitas experiências e saberes são fonte preciosa para a compreensão da vida e seus desafios diários. Um vasto segmento da poesia japonesa inspira-se neles como os que tendo atravessado as três primeiras estações da existência merecem ser servidos e ouvidos na última em primeiro lugar.

Vi uma live da Monja Coen onde ela conta dois fatos sobre essa cultura admirável, forte e delicada ao mesmo tempo, densa de saberes que foram se apurando com os séculos. Um deles diz respeito ao costume de manter o lugar do pai à mesa, ainda que ele esteja ausente. Nenhum filho vai se sentar na cadeira destinada ao pai; fazer isso representa uma ousadia inadmissível. O outro é o costume de servir primeiro os idosos e depois os demais, terminando com as crianças. A China também cultiva essa prática, o que podemos constatar nos belos vídeos da youtuber Dianxi,11 milhões de seguidores, culinarista do interior daquele país, sempre atenciosa com seus familiares idosos a quem oferece as maravilhas de sua cozinha popular rica em ingredientes e técnicas.

A hierarquia é um princípio e uma sustentação dessa sociedade que não excluiu os avanços em todas as áreas do conhecimento humano. Caminha com as conquistas do século XXI mas não elide o passado que é seu alicerce. A isso costumamos chamar reverência à história.

Bem diferente de nós, brasileiros, que em geral tratamos os idosos como um peso a ser carregado, algo que não serve mais e deveria ser descartado ou esquecido. Acho que essa forma de olhá-los explica por que as mortes por Covid, que causaram tanta comoção na Itália, por exemplo, aqui foram encaradas com indiferença. São mais de 150 mil mortos, um milhão ao redor do mundo, milhões de infectados e outros com sequelas.70% deles, idosos. Entretanto, desde o presidente da República à parte expressiva da população, a frieza que manifestam causa perplexidade aos mais conscientes do valor da vida. Não duvido que esse grupo formado por milhões de pessoas pense, embora não diga, que sendo os idosos a maioria dos mortos, a folha de pagamento de pensões e aposentadorias ficará um pouco mais aliviada ao término da pandemia.

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