Hoje apresentamos “O Bárbaro e a Gueixa“, (The Barbarian and the Geisha em inglês), uma criação suprema da arte genial do famoso diretor de cinema John Huston. É a estranha aventura do primeiro homem branco a desbravar o oriente longínquo, a terra do sol nascente, o Japão, e de uma bela gueixa, que foi enviada para amá-lo e matá-lo.
E assim tal como Dalila foi enviada para amar e destruir o poderoso Sansão como consta na Bíblia; também Okichi, a gueixa, foi mandada para amar e destruir o bárbaro do Oeste. E dos rincões místicos do Japão surgiu nas telas dos cinemas uma aventura de grande esplendor, exuberante, fantástica, genial, humana e quase verídica.
Sinopse
Mas uma fragata da Marinha dos Estados Unidos apareceu no horizonte e causou apreensão e medo na população de Shimoda. Um bote se encaminhou ao porto, conduzindo Townsend Harris (John Wayne), o primeiro representante diplomático dos Estados Unidos oficializado no Japão.
Ele estava acompanhado apenas por seu intérprete, Henry Heusken (Sam Jaffe) e três criados chineses. Imediatamente lhe ordenaram para que abandonassem o solo japonês, mas ele desafiou a ordem e se instalou num templo arruinado e infestado de ratos.
Os japoneses se recusaram em vender qualquer alimento e o mantinha constantemente sob observação.
É nesse clima, que Harris, para executar sua missão, se pôs em marcha para a capital do país, Iêdo (Tóquio), e lá negociou um tratado comercial.
Mas com paciência, habilidade e firmeza Harris forçou o governador de Shimoda, Tamura (So Yamamura) a entregar os pontos. Mas, ele muito ardiloso, visando espionar as ações do estrangeiro, introduziu como serva de Harris em sua casa a encantadora gueixa Okichi (Eiko Ando), que tinha como missão espioná-lo e matá-lo.
Baseado na história verídica do diplomata americano Townsend Harris, o filme mostra seu tempo no Japão nas décadas de 1850 e 60 e seu romance com uma gueixa de 17 anos chamada OKichi. A história deles é um dos contos folclóricos mais conhecidos do Japão. O verdadeiro Harris morreu em Nova Iorque, em 1878, e a verdadeira OKichi suicidou-se em Shimoda, em 1892.
Este filme foi feito apenas 13 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, no Pacífico, com sua brutalidade e carnificina, e é bastante surpreendente ver que “O Bárbaro e a Gueixa” tenta apresentar o choque de culturas 100 anos antes, com tanta equidade e muitas injustiças.
Embora alguns possam ver John Wayne como o garoto-propaganda arquetípico do imperialismo americano, na verdade seu personagem claramente tenta entender o país no qual ele está tentando estabelecer um consulado.
Ele mostra o seu remorso genuíno, não arrogância, ao notar que no início de sua missão, tudo o que os americanos estabeleceram foi uma epidemia de cólera e provocaram um incêndio na cidade de Tóquio para sufocá-la e, de certa forma, invadir o solo japonês com uma cultura ocidental.
Em “O Bárbaro e o Gueixa“, John Wayne interpreta Townsend Harris, um verdadeiro enviado dos Estados Unidos que foi responsável por realmente abrir o Japão às relações internacionais no final da década de 1850.
Antes dele, o Comodoro Perry basicamente entrou no Japão com canhoneiras e forçou um tratado aos japoneses em 1853. Harris, que chegou um pouco mais tarde, trabalhou nos detalhes e ajudou a garantir o cumprimento – já que muitos dos japoneses não sentiam nenhuma inclinação especial para honrar o primeiro tratado. Tudo isso é verdadeiro e mostrado no filme.
É um mini épico de Hollywood, que trata mais das estratégias políticas do bárbaro do que da arte sensual da gueixa. Na verdade, embora John Wayne tenha sido a escolha certa para o papel de Townsend Harris, o primeiro cônsul geral dos EUA, no Japão, ele parece estranho como protagonista romântico, especialmente diante da elegante Eiko Ando, que interpretou a gueixa. A princípio Marlon Brando tinha sido convidado para o papel principal.
John Huston lidou com os aspectos japoneses da história de maneira reverente e significativa. Ele deixou os atores japoneses fazerem trechos consideráveis de diálogo em sua língua nativa. Tal como John Wayne – talvez por razões diferentes – Huston deve ter se sentido atraído pelo lado humano da história.
Mas, os magnatas da Fox Filmes refizeram as cenas e reeditaram o filme. Não havia muito a ver com um roteiro que escondia o interesse expansionista em quebrar a política isolacionista do Japão por trás da demagogia do cônsul-geral dos Estados Unidos e sua política expansionista.
O filme não é uma aventura de John Wayne cheia de ação, mas agradável por seus próprios méritos. Esses méritos incluem uma visão interessante do Japão por volta de 1856 e como a chegada de não japoneses foi vista com medo e aversão.
Mas é um verdadeiro prodígio de inspiração e beleza, magistral e mostra os mistérios e esplendores do Japão místico, com seus rituais, cerimônias e superstições exóticas e pitorescas, realizada pelo mestre John Huston. Uma obra significativa da sétima arte.
Apesar do filme “O Bárbara e a Gueixa” contar uma história baseada em fatos reais, faltou contar a verdade. Por imposição da Fox Filmes a produção tomou certas liberdades que fogem do que realmente aconteceu no Japão.
Em pesquisas que realizei percebi que naquele momento já começaram as rivalidades entre Estados Unidos e Japão, que levaram ao ataque fulminante de Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, o que colaborou para a eclosão da Guerra no Pacífico. Guerra com o seu final trágico, onde os americanos lançaram as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.
Mas é um filme espetacular e tem uma ótima fotografia em cores e dá para entender e compreender sobre os costumes e cultura dos japoneses. De modo geral, o filme é digno de ser assistido.
Ficha Técnica
Filme: “O Bárbaro e a Gueixa“
Direção: John Huston
Produção: 20th Century Fox
Ano: 1958
Elenco: John Wayne, Eiko Ando, Sam Jaffe, So Yamamura, Norman Thonson, James Robbins e Morita
Roteiro: Elis St. Joseph
Música: Hugo Friedhofer
Fotografia: Charles G. Clarke
Cenografia: Lyle R.Wheeler e Jock Martin Smith
Figurinos: Charles Le Maire
Produtor: Eugene Frenke