‘Mães de verdade’, um comovente drama japonês sobre adoção

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'Mães de verdade', um comovente drama japonês sobre adoção

Dos anos 1950 até o início dos anos 1980, filmes japoneses chegavam regularmente ao Brasil graças a distribuidores e exibidores concentrados em São Paulo. O livro “Cinema japonês na Liberdade”, de Alexandre Kishimoto, fala sobre esse período de ouro em que se podia ir muito além de Akira Kurosawa.

Hoje, é preciso comemorar quando um longa japonês fura o “cerco do hambúrgue.” estabelecido pelo cinema dos EUA e chega à tela grande, como “Mães de verdade” — que, para prosseguir na imagem gastronômica, enriquece o nosso cardápio com finas fatias de peixe cru.

Sua diretora, Naomi Kawase, tem sido uma das poucas a representar a tradição oriental no Brasil. “O segredo das águas” (2014), “Sabor da vida” (2015), “Esplendor.” (2017) e “Vision” (2018), todos lançados por aqui, convidam o espectador a uma jornada espiritual, de contemplação e reflexão.

“Mães de verdade” (ou “a manhã está chegando”, na tradução literal do título em japonês) tem os dois pés no melodrama, ao substituir o interesse habitual de Kawase pelas relações com a “mãe natureza” por um tema caro ao cinema de seu país, os laços de família. Em primeiro plano, a maternidade.

Baseada em romance de Mizuki Tsujimura, escritora popular entre jovens no Japão, a trama — que deu origem em 2016 a uma minissérie de TV —alimenta-se da turbulência provocada em um casal (Hiromi Nagasaku e Arata Iura) quando a mãe biológica de seu filho adotivo (Aju Makita) reaparece em suas vidas.

Ao ir e voltar no tempo, a narrativa costura lentamente as circunstâncias que levaram os personagens à situação em que um menino (Reo Sato) passa a ter a “mãe de Tóquio” e também a “mãe de Hiroshima”. Sim, cinema de lágrimas, modalidade “choro com soluços”.

Kawase, cuja biografia envolve uma relação delicada com a mãe, lida com emoções que transbordam e não se preocupa em contê-las. Além da força natural que empresta ao exame da maternidade, a chave do melodrama usada pela diretora funciona também para um pequeno exame sociológico da instituição família no Japão atual.

Nesse aspecto, “Mães de verdade” se aproxima do cinema de Hirokazu Kore-eda, quase sempre voltado para o microcosmo familiar como oportunidade de conhecer uma sociedade. Parte do elenco escolhido por Kawase, aliás, vem do universo de Kore-eda.

Iura (o pai do menino) fez “Depois da vida”e “Pais e filhos”(2013), entre outros; a jovem Makita esteve em “Depois da tempestade.” (2016) e “Assunto de família” (2018), Palma de Ouro em Cannes — e que fornece interessante contraste social com “Mães de verdade”.

Diretor:

Naomi Kawase

Onde:

Estação Net Rio

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