A discriminação contra asiáticos, seja no Brasil ou no mundo, é um fenômeno velado e pouco discutido. Porém, com a pandemia do coronavírus, que começou na China, a discussão sobre esse preconceito foi levantada. Mas a pergunta que fica é, por que tal fenômeno é tão pouco discutido e também qual ou quais os motivos que fazem muitos acreditarem que essa discriminação não existe?
No Brasil, os descendentes de orientais desfrutam de privilégios que negros e indígenas não chegam perto por conta de sua pele (não são vítimas de genocídios e assassinatos), mas isso não significa que não sejam alvos de preconceito.
O país é considerado o lugar com mais japoneses e descendentes fora do Japão, somando uma população de mais de 1,6 milhão pessoas, segundo relatório da Central Intelligence Agency (CIA) feito em fevereiro de 2019. Porém, muitos dos descendentes de japoneses, ou de asiáticos no geral, se consideram brancos, e não amarelos, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, em que 0,47% dos brasileiros se consideravam amarelos, enquanto 45,22% se consideravam brancos.

DISCRIMINAÇÃO CONTRA ASIÁTICOS
A opressão contra os nipônicos não é nada atual. Na época do Estado Novo até o final da Segunda Guerra Mundial, o clima foi de repressão a toda e qualquer manifestação da cultura japonesa, como por exemplo, a proibição de publicações no idioma, o fechamento de escolas e até o aprisionamento de pessoas em campos de concentração construídos no Brasil. Existe o estereótipo de que as colônias japonesas são muito fechadas, como se fosse algo hereditário, mas não consideram todo o histórico de opressão.
Existe uma ideia de que os japoneses são parte de uma “minoria-modelo”, fundamentada em estereótipos supostamente positivos, que os coloca como inteligentes, bons na área das exatas, trabalhadores e honestos. Essa exaltação do nipo-brasileiro vem de um processo de “branqueamento”, em que a pessoa, ao ascender socialmente, passa a ser reconhecida como portadora de direitos.
Essa discriminação também está na mídia, em que falta representatividade. São pouquíssimos os descendentes de asiáticos que atingiram a fama não só no Brasil, mas mundialmente. Essa falta de representatividade nas produções de entretenimento e publicidade, além da questão profissional, afeta também a autoestima dos descendentes, principalmente na infância, pois é associada à beleza com a brancura. Sem contar que não existem quase influenciadores digitais com descendência oriental, tanto no Brasil quanto no mundo.

CORONAVÍRUS E XENOFOBIA COM ASIÁTICOS
Por conta desse problema, foi criada a hashtag “eu não sou um vírus”. A princípio, ela foi usada por internautas franceses de origem asiática, mas, depois, ela se espalhou pelo mundo e foi usada por várias pessoas, que também são descendentes de asiáticos, como uma forma de protestar contra o preconceito.
Até hoje, os descendentes de asiáticos nascidos no Brasil e em países fora da Ásia são vistos como estrangeiros. Muitos ainda pensam que não existe preconceito, porque já estão acostumados a usar expressões e piadas de mal gosto para estereotipar asiáticos e não percebem o quanto isso pode ser ofensivo a esses povos.
Deve-se discutir sobre essa discriminação a todo o momento, não só quando um vírus de origem asiática aparece. É necessário reiterar que, no Brasil, os descendentes de orientais já deixaram de ser estrangeiros e que, agora, são brasileiros.