Tommie Kono, do campo de concentração à glória olímpica

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Tommie Kono, do campo de concentração à glória olímpica
Nascido em 1930 nos Estados Unidos, o filho de japoneses Tamio ‘Tommie’ Kono viu sua vida tranquila em Sacramento mudar radicalmente com a entrada dos norte-americanos na II Guerra Mundial, após o ataque japonês à sua base de Pearl Harbor em 1941. Ele e sua família foram levados a um campo de concentração para japoneses e descendentes no meio do deserto da Califórnia. 100.000 nipo-americanos foram levados a esse campo durante o conflito.
Kono não entendeu bem porque estava ali, sendo tratado como inimigo do país onde nasceu e passando por situações muito difíceis. Mas algo bom acontecera lá: Seus pulmões, debilitados por conta da asma, melhoraram consideravelmente graças ao ar seco do deserto e o jovem adolescente, se sentindo mais forte, passou a levantar pesos para passar o tempo. “No início, eu não queria ser um levantador de pesos, eu só queria ser uma pessoa saudável” disse Kono, anos mais tarde
Após o fim da II Guerra, Tommie e sua família foram libertados e ele pode enfim continuar sua vida. E o hobby adquirido no campo de internação acabou ficando mais sério, culminando com sua entrada em uma equipe de levantamento de pesos. Em 1952, ele estava nos Jogos Olímpicos de Helsinque (FIN) representando os Estados Unidos demonstrando que não tinha nenhuma mágoa com o país – muitos dizem que foi uma forma de agradecer por conta da dispensa da participação da Guerra da Coreia quando servia o exército. E ele levou o ouro na categoria leve.
Mas Tommie Kono queria mais. Durante sua carreira, ele demonstrou grande habilidade em aumentar ou diminuir de peso sem perder força. Tudo bem que ele usava um jeito bem peculiar para fazer isso: para aumentar de peso, ele se alimentava sete por vezes por dia. Quando precisava perder peso, ele ‘só’ comia três vezes por dia. Por isso, na Olimpíada de 1956 em Melbourne (AUS) ele competiu na categoria meio-pesado e levou o ouro, com direito a recorde mundial e 20 kg acima da marca levantada pelo medalhista de prata.
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Kono durante os Jogos olímpicos de Melbourne em 1956
Para os jogos de Roma em 1960, ele estava mais uma vez em uma categoria diferente, buscando o inacreditável feito de se tornar campeão olímpico do levantamento de pesos em três categorias diferentes. Mas na categoria média, ele encontrou um rival à altura, o soviético Aleksandr Kurynov que ficou com o ouro, deixando Kano com a prata. Conquistou o feito de obter medalhas em três categorias diferentes no levantamento de peso.
Ele lutou para conquistar quatro medalhas em Tóquio 1964, terra de seus pais, mas uma contusão no joelho brecou o seu sonho e ele teve que encerrar a carreira no ano seguinte. Mas ele foi logo exaltado como um dos maiores da história na modalidade: afinal, além das três medalhas olímpicas, Kono conquistou seis títulos mundiais e foi tricampeão pan-americano em duas categorias. além de estabelecer 26 recordes mundiais, 8 pan-americanos e 7 olímpicos em quatro categorias ao longo da carreira, o único da história a alcançar tal feito.

Paralelamente ao levantamento de pesos, Tommie ainda seguiu a carreira de fisiculturista, sendo campeão do Mr. Mundo em 1954 e do Mr. Universo em 1957, 1959 e 1961, se tornando ídolo para um menino lá na Áustria chamado Arnold Schwarzenegger nos anos 1960.

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Schwarzenegger, o ‘Pelé’ do fisiculturismo, sempre afirmou que Kono é um dos seus grandes ídolos no esporte
Tommie se tornou técnico de levantamento de pesos das equipes do México nas Olimpíadas de 1968, Alemanha Ocidental em 1972 e dos Estados Unidos (masculino) em 1976 e a feminina entre 1987 a 1990, época dos primeiros mundiais de levantamento de peso para mulheres.
Durante os jogos de Atlanta em 1996, Tommie foi eleito um dos 100 maiores campeões olímpicos norte-americanos da história, entrando para o Hall da fama do Comitê Olímpico do país. Ele também foi eleito para o Hall da fama da Federação internacional de levantamento de pesos, que o considera como ‘o maior halterofilista do século XX’
Tommie Kono morreu no Havaí em 2016, aos 85 anos, por conta de complicações de uma doença hepática.

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