As bombas Little Boy e Fat Man foram lançadas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945, matando mais de 200 mil pessoas, mesmo após a rendição total do Japão assinada pelo imperador Hirohito.
Estima-se que 650 mil civis japoneses sobreviveram ao ataque atômico, mas na época e durante muitos anos ninguém quis saber como foram suas vidas no pós-guerra, marcadas por problemas agudos de saúde, marginalização e estigmas sociais.
Rosto em pedaçosTaeko Teramae. (Fonte: 1945 Project/Reprodução)
Em 6 de agosto de 1945, a sobrevivente Taeko Teramae tinha apenas 15 anos quando foi uma das milhares de estudantes mobilizadas para ajudar na escassez de mão de obra em Hiroshima durante a guerra. Ela estava no Departamento de Telefonia da cidade quando ouviu um “barulho tremendo”, como escreveu em seu artigo de 1985 para a revista Heiwa Bunka.
As paredes desabaram ao seu redor antes que ela pudesse se mover. “Comecei a engasgar com o cheiro de um gás venenoso e não consegui parar de vomitar na escuridão”, descreveu Taramae. Ela conseguiu escapar dos escombros pulando de uma janela do segundo andar e descendo por um poste telefônico.(Fonte: Hiroshima Peace Media/Reprodução)
Assim que tentou cruzar o Rio Kyobashi, ela se deparou com a única ponte para a travessia em chamas e sua cidade coberta por “um mar de fogo”. Ela foi auxiliada pela professora Chiyoko Wakita, que a deixou em um centro de evacuação antes de voltar para ajudar seus outros alunos. Ela morreu em 30 de agosto daquele ano.
“Wakita salvou minha vida, mas não fui capaz de dizer-lhe um simples ‘obrigado’. Lamento muito por isso até hoje”, disse Teramae.
Com a queda da bomba, Taeko Taramae perdeu um de seus olhos, fraturou a mandíbula e teve o rosto dilacerado por centenas de cortes.
O fim do mundoSachiko Matsuo. (Fonte: 1945 Project/Reprodução)
Sachiko Matsuo tinha 11 anos quando seu pai encontrou um folheto lançado pelos pilotos norte-americanos para alertar sobre um ataque iminente que recairia sobre Nagakasi. Aterrorizado, o pai de Matsuo construiu uma cabana improvisada no alto de uma montanha com vista para a cidade, implorando para que sua família se abrigasse lá até o ataque.
Quando o bombardeio não aconteceu no dia planejado, visto que o fuso horário dos Estados Unidos estava um dia atrás do Japão, a mãe e a tia de Matsuo disseram ao homem que queriam ficar em casa. Ele se opôs, mas elas não o escutaram, causando nele uma revolta que o fez sair para trabalhar.
Receosas, as mulheres mudaram de ideia e ficaram na cabana improvisada por mais um dia. A bomba caiu poucas horas depois. Apesar de as centenas de lacerações graves e queimaduras de terceiro grau causa pela radiação, todos sobreviveram, incluindo o pai de Matsuo. Ele estava do lado de fora da fábrica onde trabalhava quando foi atingido.(Fonte: Buhitter/Reprodução)
“Eu não consegui ver nada lá do alto. Lembro de minha avô começar a chorar, dizendo ‘Todo mundo está morto. É o fim do mundo’. Ela estava certa”, lembrou Matsuo, em 2017.
Nas semanas seguintes ao bombardeio, o pai de Matsuo começou a sofrer com os efeitos imediatos da radiação, tendo diarreia e febre alta. O cabelo dele caiu, manchas escuras se formaram em sua pele e ele morreu em agonia em 28 de agosto daquele ano.
Ele foi apenas um dos milhares que acreditaram que haviam sobrevivido ao pior: o impacto da bomba.